quinta-feira, 24 de março de 2011

Maria é que era mulher de verdade

Imaginem vocês. A Maria deu certo na vida. Aqui no Nordeste dar certo na vida é arrumar bom trabalho, casar bem, e por aí vai.

Lembro-me muito bem da Maria. No clube, eita mulher pra mexer gostoso. Sua dança excitava os donzelos. Isso fazia um estrago danado. Vocês podem até imaginar. Aconteceu comigo. Também sou mortal, e, diga-se de passagem, a Maria era muito boa. E é.

Maria não enjeitava um passo.

– Vamos dançar? Bora!

Esse era o expediente da Maria pra dizer que não enjeitava um bom chamego.

E saía a bailar pela pista de dança, coladinha no congote do feliz dançarino. Uma verdadeira imperatriz dos salões de minhas terras.

Uma vez criei coragem e me aventurei em chamar a Maria pra dançar. Foi numa sexta-feira, de feirinha, típica por sinal. Aproximei-me com o coração na mão, pernas trêmulas. Lá estava a Maria, calça colada, blusinha curta, perfume chocolate. Um luxo. Pronta pra mim. Pelo menos assim eu pensava. Naquele momento tive a impressão de possuí-la. A idéia de propriedade é danada mesmo. Só complicou ainda mais a minha vida. Peguei apreço pela moça. Isso não caiu nada bem depois.

Tentei puxar um papo.

– Tá gostando?

– Com certeza! Uma delícia! – exclamou.

– Como se chama?

– Maria!

De repente senti um acocho arretado daqueles belos braços. Um fungado gostoso tomou conta de meu magro pescoço. Fiquei atônito, buscando o ar que me falta em quantidade suficiente para esperar o que viria logo após dessa exploração corporal! De longe pressenti que nos observavam.

Pensei.

– Um dia ainda me meto em confusão por conta dessa mulher!

Reparei que havia muitos homens a nos observar, enquanto a Maria rodopiava em meus braços. Confesso que senti medo.

Não conseguia nem pensar direito. Aquela mulher não era fácil. Aquilo é que era mulher danada, verdadeira. Facilitava a vida de cada um que enveredasse em suas teias de mulher fogosa. Comigo não foi diferente Mas isso era a Maria. E é.

Um dia apresentei a Maria para meu irmão. E disse:

– Velho, se cuida, senão você vai pros ares com a Maria na frente de todo mundo! Essa preta deixa um de perna bamba.

Como era excitante ver a Maria dançando. Dançar com a Maria era melhor ainda. E é.

A mulher era uma verdadeira dama do requebrado. O rapaz quis marcar esquema com ela, e eu fiquei na mão. Desde esse dia perdi a Maria pro meu irmão, que mais na frente a perdeu pra outros amantes potenciais.

Dia desse encontro a Maria e tomo satisfação:

– Como podes fazer uma coisa dessas comigo Maria? Não tive chance no teu coração!

Tentei vencer a concorrência. Perdi a parada.

Maria se casou, e agora é mulher de bem, tenham respeito.

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